Dos comentários (no post sobre o Uber) Marcelo Gil: “Isso está me fazendo lembrar do Paulo Maluf, coitado. Antes da privatização da telefonia ele tinha, só em São Paulo, mais de 4 mil linhas telefônicas que alugava a “preços módicos”. Perdeu. É assim a vida. Eu mesmo, antes de ser jornalista, há muitos anos, uns 30 aproximadamente, fui taxista. Foi meu primeiro trabalho na vida. Minha mãe comprou o carro e a autonomia para mim. Mãe é mãe. Custou muito caro, uns 60 mil “dinheiros” daquela época, sei lá qual era a moeda. Não valia muita coisa no dia seguinte. Desde criança estudei no Colégio Marista São José, na Tijuca, uma instituição católica secular e de muito rigor, disciplina, ética e respeito. Tinha que rezar um Pai Nosso antes de cada aula e eram 5 por dia. Considero-me um sujeito bem educado. Trabalhava 12 horas por dia, às vezes 14 e nunca ganhei dinheiro, pois não ficava parado em ponto. Eu achava que tinha que ir aonde o passageiro está, como o Milton Nascimento. Chegava em casa pela manhã sem poder virar a cabeça pro lado de tanta dor. Às vezes tinha que parar no Cervantes em Copacabana, já quase amanhecendo, para comer um pernil com abacaxi e relaxar o pescoço. Passei muito aperto com passageiros armados, subi favelas para levar drogados à boca de fumo, tomei “duras” de policiais em blitz de ter que tirar até as cuecas. Final dos anos 80, ainda época da ditadura. Chegou o Collor. Vendi o táxi para comprar um avião monomotor com meu irmão que era piloto e ir para o garimpo em Rio Branco/AC. O Collor tomou o meu dinheiro. Fiquei sem táxi, sem avião e sem dinheiro. Então minha mãe me disse: “se vira”. Perdi. É assim a vida.”

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Como é que um sujeito com 240 pontos na carteira e 14 multas por embriaguez ao volante ainda pode dirigir? Como é que ainda tem carteira? Esse Pitanguy assassino que atropelou e matou um pai de família deve ir para a cadeia, mas a conta da morte tem que ser dividida com as pessoas que fecharam o olho para o risco que ele representava para a sociedade.

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Quem abrir o aplicativo do Uber hoje, aqui no Rio, vai encontrar uma surpresa: ao lado do conhecido sedan preto, que indica o Uber Black, haverá um carrinho menor, cinza, representando o Uber X. A alternativa, que já funciona em São Paulo há dois meses, oferece o mesmo tipo de serviço, só que com veículos mais simples, como o Ford Focus ou o Honda Fit, e a preços 30% mais baratos do que o dos táxis comuns. Como os motoristas do Uber Black, os do Uber X também são profissionais, e passam pelos mesmos critérios de avaliação. Guilherme Telles, o diretor geral da Uber no Brasil, explica que eles se propõem, contudo, a atender um novo tipo de passageiro. — O Uber X já existe em várias cidades do mundo. Ele funciona sobretudo em bairros distantes e áreas de periferia, e em geral fazendo uma última perna entre o transporte público e a casa do usuário, tipicamente aquela pessoa que precisa andar vários quilômetros até o ponto de ônibus mais próximo. A ideia do Uber X é complementar o ecossistema de transporte. Na verdade, o Uber X pretende resolver não só o problema dos passageiros sem condução como o dos motoristas que, tendo passado em todos os critérios de avaliação da empresa, esbarram no quesito carro: afinal, nem todos tem como comprar os luxuosos carrões importados com bancos de couro que atendem às exigências do Uber Black. Nos Estados Unidos, o Uber X é o verdadeiro sistema de carona paga que deu origem a essa definição um tanto inadequada para a realidade do Uber tal como o conhecemos. Lá, os motoristas não são profissionais, mas pessoas que têm carro e habilitação, mais ou menos como os do Uber Pop europeu, que tanta comoção causou entre os taxistas franceses. Uber Black, Uber X, Uber Pop — afinal, quantos Uber existem? — A Uber tem uma quantidade enorme de opções, — diz Filippo Renner, o diretor geral do Rio. — Chega a ser difícil lembrar. Por outro lado, é fácil descobrir — e é uma boa brincadeirinha para quem curte o aplicativo. Basta dar zoom no mapa e buscar qualquer das cidades onde existe Uber. Em Los Angeles, por exemplo, além de Uber Black e UBer X, existem os Uber Pool (uma espécie de lotação), Plus (sedans de luxo, como Mercedes ou Audi), SUV (caminhonetes), Lux (limousines) e Access, alguns com diferentes alternativas para o passageiro. O Uber X, por exemplo, pode ser X (carrinhos comuns), XL (carros grandes, para seis pessoas) ou ESP (com motorista que fala espanhol); o Uber Access tem duas modalidades de serviço para cadeirantes e pessoas com necessidades especiais. Em Istambul há o Uber BOAT, que oferece lanchas no estreito de Bósforo; em Nova Delhi pode-se chamar um tuk tuk com o Uber AUTO. — As possibilidades são infinitas! — diz Filippo. Ele está particularmente empolgado com o Uber Eats, um serviço experimental que já funciona em Nova York e em Chicago, e que oferece duas ou três opções de refeições rápidas e baratas, em torno de U$ 10, que podem chegar ao cliente em cinco minutos. Filippo, que tem 30 anos, 1m95 e cara de quem mal saiu da universidade, comanda, há três meses, a equipe de 10 pessoas que toca o recém instalado escritório carioca, em Ipanema — tão bagunçado ainda que fomos conversar no Bar Lagoa. Tudo é muito novo na Uber, a começar pelos funcionários. A idade média não passa dos 30 anos; o mais novo, João Barbará, gerente de operações em São Paulo, tem 26, a mais velha, a diretora jurídica Ana Pellegrini, tem 38. O background de todos é bastante parecido. Quando não vêm direto da universidade ou do mestrado, eles vêm de outras empresas de tecnologia, como o Groupon, o Google ou o Peixe Urbano. O escritório de São Paulo, onde trabalham pouco mais de 20 pessoas, não está muito mais arrumado do que o carioca. Encarapitado no alto de um prédio imponente, com vistas espetaculares das janelas, ele promete ficar lindo; por enquanto, é uma típica startup em processo de crescimento, com caixas empilhadas por todos os lados e uma salada de objetos incongruentes amontoados: centenas de headphones, material de escritório, lixeiras, pacotes de biscoito e guardachuvas. — A nossa vida é cheia de obstáculos, — brinca o diretor de comunicação Fábio Sabba, de 35 anos, uma das caras mais conhecidas da operação brasileira da empresa. É ele quem atende jornalistas, dá declarações, acompanha debates nas câmaras legislativas. Mas nada é muito estanque na estrutura da casa; todos conversam sobre todos os assuntos pertinentes ao Uber, conhecem a legislação de transportes e os mínimos desdobramentos do que está acontecendo com o serviço pelo mundo afora. Quando saem do trabalho na sexta à noite, conectam-se pelo WhatsApp e passam o fim de semana pilhados, trocando ideias e informações. Apesar da juventude, todos são muito bem preparados, com ótimos títulos acadêmicos, e surpreendentemente experientes: Filippo fundou uma empresa aos 20 anos, Leticia Mazon, que tem 28 e trabalha com Fábio na comunicação, vem da prefeitura de São Paulo, Daniel Mangabeira, de 30, diretor de políticas públicas, passou pela Global Health Strategies, pela UK Trade and Investment e trabalhou para o governo britânico. A empolgação que a turma tem de pertencer a um projeto tão novo e tão disruptivo é palpável, mas ela vem misturada com uma ponta de frustração, causada pela hostilidade com que a empresa é tratada pelos taxistas e pelos vereadores. — Quando uma fábrica que vai gerar 600 empregos é inaugurada é recebida de braços abertos pelas autoridades, ganha incentivos fiscais e não paga IPTU por dez anos, — diz Fábio Sabba. — Nós, que geramos milhares de empregos, estamos sendo recebidos com pedradas. Paralelamente à empolgação e à frustração, há uma justificada dose de medo. Além dos episódios de violência registrados contra carros, motoristas e passageiros, o presidente do Simtetaxis, sindicato dos taxistas de São Paulo, já deixou clara a reação da categoria em caso de regulamentação do Uber: “Vai ter morte”. Há emoções positivas também, que vêm da satisfação dos usuários e das vitórias conquistadas. Há doze dias, o governador Rodrigo Rollemberg vetou uma lei que proibia uso do aplicativo em Brasília, e se comprometeu a regulamentar o serviço. — É tudo o que nós queremos, — observa Daniel Mangabeira. — Queremos debater, queremos ser ouvidos, queremos contribuir para melhorar o transporte nas cidades. A decisão do governador teve um gosto especial para Daniel, que naquele dia saiu direto da Uber para a maternidade, onde nasceu seu primeiro filho. — Eu nem acredito que a Uber só está no Brasil desde maio passado, — diz ele. — Tantas coisas vem acontecendo, e com tanta intensidade, que a impressão que eu tenho é que já se passaram cinquenta anos. (O Globo, 21.8.2015)

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Pessoas, esses filhotinhos lindos, inteligentes e carinhosos estão para adoção. São tão amigos e unidos que a Thábata Carvalho, que está cuidando deles, não quer doá-los separadamente. Os dois têm cerca de quatro meses, e serão castrados. A Frajolinha que parece o Toró é fêmea; o laranjinha é macho. Mais informações a respeito deles pelo email tcarvalho93@outlook.com. Vocês podem por favor retuitar este anúncio? Eu ficaria tão feliz se a gente conseguisse achar um lar para os dois juntinhos!

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Adeus a uma velha estante Durante muitos e muitos anos a estética da minha vida doméstica foi uma coisa meio mambembe. Os ambientes eram simpáticos e alegres — eu nem saberia viver de outra maneira — mas o dinheiro, como um cobertor curto, não dava para tudo. Tendo comprado o apartamento, não podia comprar os móveis; tendo comprado os móveis, não podia trocar o chão; tendo trocado o chão, não podia fazer a reforma do banheiro. Era preciso escolher. E a primeira escolha que fiz, assim que a poeira da mudança assentou, foi uma estante na sala, grande o suficiente para abrigar os meus discos, os meus livros e uma imensa tevê de 30 polegadas. Ela ocupava a extensão de uma parede, e era linda: toda em pau marfim, com frisos em rádica nas portas e um bonito detalhe em mármore no cantinho do bar. Fomos felizes juntas por vários anos. Quando a Sony Trinitron foi embora, porém, ela teve que sofrer uma modificação estrutural. Não ficou ruim, mas ali, sem que nenhuma de nós percebesse na hora, começou o fim da nossa relação. As pequenas prateleiras que entraram no vão antes ocupado pela televisão eram incongruentes, assim como o ressalto projetado para abrigar aquele monstrengo com seu descomunal tubo de imagem. Mais tarde, quando a música se mudou para a nuvem, a estante, que tinha recortes cuidadosamente projetados para abrigar uns tantos CDs, deu mais um passo em direção à obsolescência. Os CDs, ao contrário da TV, nunca foram embora; mas eu olhava para o espaço fantasma e para aqueles objetos agora desnecessários e sentia o passar do tempo. Passei os dois últimos anos vendo a minha velha estante com um olhar crítico. Com as mudanças que a vida fez na casa e em mim, o que era elegância virou excesso, o que era moderno ficou datado. Comecei a implicar com a madeira escurecida pela claridade, com o espaço que ela tomava, com o seu testemunho dos anos 90. Perdi o gosto de arrumá-la, e os livros e objetos empilhados só fizeram piorar a situação. Ainda assim, relutava em trocá-la. Com toda a sua inadequação ao novo século, ela continuava sendo um belo móvel, sólido e eficiente, daqueles que as visitas elogiam, cheias de admiração: “Ah, hoje não se consegue mais fazer uma peça assim!” Eu pensava na nossa história, pensava em quanto tive que economizar para mandar fazê-la e na satisfação que senti quando ficou pronta, e ia adiando a decisão. Até que, de repente, de um dia para o outro, tomei coragem. Há três semanas ela foi começar vida nova numa instituição filantrópica em Itaipava; há cinco dias, uma nova estante ocupa o seu lugar. É o seu exato oposto, básica, magra, em ferro e madeira — pouco ferro, pouca madeira. Pouca estante. Ainda não me acostumei com a mudança. É como se a casa tivesse cortado o cabelo, trocando os seus longos cachos louros por um corte castanho bem curtinho. Às vezes, de noite, quando estamos sozinhas na sala, a nova estante e eu, sinto um aperto no coração, imaginando como estará a minha velha amiga, e se será usada como era, ou se apenas as suas prateleiras serão reaproveitadas, como os órgãos doados de um corpo morto. Sinto que traí a sua confiança: ela nunca teria esperado isso de mim. Sinto até que traí a mim mesma, uma versão mais jovem de mim que tinha uma outra visão do mundo e da casa. Mas aí os livros por arrumar me olham da sua pilha e reviram os olhos metafóricos: — Deixa de ser emotiva, Cora Rónai! Era só uma estante. Os livros por arrumar. Estamos falando de mais de vinte anos de livros, e de um tipo muito especial, aquele que os angloparlantes definem como coffee table books: livros grandes e vistosos, belos objetos de papel e tinta, comprados mais por capricho do que por necessidade. Muitos dos meus coffee table books estavam exilados nas prateleiras superiores, das quais nunca mais haviam descido; vários tinham desaparecido da minha lembrança, junto com as razões que me levaram a adquiri-los. Virar lentamente as suas páginas é reencontrar blocos do passado, numa espécie de arqueologia sentimental que expõe a longa galeria dos meus arrebatamentos — história medieval, mergulho, design, tapetes orientais, livros e bibliotecas, fotografia, animais, cinema, mapas e globos, computadores, Egito Antigo, viagens, internet, as grandes guerras, Índia e China, Veneza e Constantinopla. Quanta coisa eu já soube. Quanta coisa eu já não esqueci. o O o Hoje à noite, a partir das 19hs, participo de um bate papo com Mentor Muniz Neto na Livraria da Travessa do Leblon. Neto, um dos campeões de popularidade das redes sociais, vem ao Rio lançar “Ódio, raiva, ira e outros prazeres diários”, coleção de pequenas fábulas urbanas. Sou fã dele, e fã deste livrinho precioso cuja quarta capa escrevi de puro entusiasmo, antes mesmo de conhecer o autor pessoalmente. Neto é um observador extraordinário do cotidiano, especialista em notar o que vemos sem perceber, e mestre em apontar o ridículo universal da existência. Ele transita entre a ternura e a crueldade com desenvoltura e com um senso de humor infalível, e com isso conquistou uma legião de fãs que curtem o que ele escreve antes mesmo de ler o que foi escrito. Nós vamos conversar sobre ódio, raiva, ira e outras emoções cotidianas na internet. Apareçam! (O Globo, Segundo Caderno, 20.8.2015)

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