Cabeça nas nuvens

O que faz uma criatura que, às duas da matina, perde o documento quase pronto em que estava trabalhando? Senta e chora? Vai à cozinha e assalta a geladeira para se consolar? Corta os pulsos? Reinicia o computador e escreve uma coluna contando o que aconteceu e alertando os leitores para o fato de que, em pleno ano de 2013, ainda é possível — muito possível! — perder um documento?

Optei pela última opção — e é sobre isso que vocês vão ler hoje. Eu estava no último parágrafo de uma coluna sobre a compra coletiva de uma máquina de lavar via Facebook quando o Word travou, me ofereceu as opções de desligar ou desligar e saiu do ar. Não me preocupei. Isso acontece de vez em quando com o Word, mas em geral o documento, salvo automaticamente a cada dez minutos, reaparece numa aba de recuperação, à esquerda do monitor. No pior dos casos, perdem-se algumas linhas ou um parágrafo.

Só que, dessa vez, quando reabri o Word, não apareceu aba de recuperação alguma. Fechei o Word, abri de novo — e nada. Nas pastas de documentos não havia sinal do que eu estava escrevendo. Dei uma busca geral por arquivos *.tmp (de temporary) ou *.asd (de auto save document) e só não fui  contemplada com telas em branco porque uma versão antiga de uma coluna do ano passado apareceu dando alô e tripudiando da minha aflição. Senti um frio na barriga. Como assim? Onde estava o arquivo? Hoje em dia arquivos não desaparecem no ar — ou desaparecem?

Isso não me acontecia há muito, muito tempo. Sou paranóica e salvo o que escrevo compulsivamente. Ou, melhor dizendo, eu era paranóica, na época em que os processadores de texto eram incompetentes e não salvavam os arquivos sozinhos. Escrevia um parágrafo e salvava. Levantava para tomar cafezinho, salvava.  Atendia o telefone, salvava. Escrevi incontáveis colunas sobre a importância de se salvar o trabalho com regularidade e, por tabela, sobre a importância do backup. Tenho arquivos e pastas duplicados na nuvem e em discos externos. Mas foi preciso cair do galho para ver que,  obviamente, baixei os meus níveis de paranóia em algum momento.

Fui à página de ajuda da Microsoft — que é clara e bem explicada. Há inúmeros procedimentos possíveis para recuperar um arquivo que não foi salvo. O único problema é que todos contam com a hipotética existência de um arquivo temporário. Quando, por algum motivo, este arquivo não existe, tudo resulta inútil.

Considero a paulada que o Word me deu muito didática. Às vezes, precisamos reaprender certas coisas, e reaprendi a ficar esperta. Dei vários saves na página em que esta coluna foi escrita. Mudei o padrão de auto recuperação do Word para cinco minutos em vez de dez e ativei a opção “Salvar Backup”. Ela só me será útil se eu salvar os documentos, é claro, mas desgraças podem acontecer também com aqueles que já foram salvos, e não quero mais arriscar.

Finalmente, seguindo o conselho que Jorge Vismara me deu quando chorei as mágoas no ombro dos amigos do Facebook, decidi investir um tempinho para estudar o Google Apps e as vantagens de trabalhar nas nuvens — onde, paradoxalmente e em tese, os documentos ficam mais seguros do que nas nossas máquinas imperfeitas.

 (O Globo, Economia, 20.4.2013)

29 respostas em “Cabeça nas nuvens

  1. Ain, eu sei bem como é isso e quase surtei quando perdi uma parte do estava escrevendo para o meu TCC. Aí também aprendi a duras penas e comecei a utilizar arquivos no drive (extinto docs do google) e a usar backups online (nuvem). Eu uso o NUV3M para backups online. É pago, mas achei o preço justo (barato) e bem eficiente. Para quem ficou curioso, recomendo: http://www.nuv3m.net/servicos-computacao-nuvem/backup-online-arquivos-e-dados/ .

    Pois é Cora, vc não está sozinha no mundo. Tb sou paranoica qto a backups e botões de salvar a cada instante. 😉
    Sucesso ao blog.

    Beijos,

  2. Corinha, adorei o
    “O que faz uma criatura que, às duas da matina, perde o documento quase pronto em que estava trabalhando? … Reinicia o computador e escreve uma coluna contando o que aconteceu e alertando os leitores…”
    🙂

  3. Corinha, meu desktop atual:
    Office 2013 + Skydrive + Crashplan c/ backup corrente em NAS (Obs: criar VHD no NAS c/ disk management do Win) E nuvem simultaneamente.
    Dificil perder algo pois há sempre 2 versões: Skydrive e desktop. Alem de 2 backups constantes: NAS e Crashplan cloud.

    Bj
    PS: E ainda tenho uma copia dos docs e pics/videos pessoais no Box.

    • Meu esquema de BackUp:
      – imediatamente, assim que crio um documento novo (texto, foto, DataBase, planilha, etc.):
      MS SyncToy do MyDocs para cópias em: VHD do NAS, PenDrive externo e HD terceário interno (HD1Sys – OS e Aplicativos; HD2 Data – MyDocs, MyPics e similares; HD3 – BackUp e Videos)

      – no final do dia:
      SyncToy para o SkyDrive

      – Segundas-feiras: Imagem completa (com o Acronis True Image) dos HDs Sys e Data para o HD3
      – Quintas-feiras: Imagem completa (Acronis True Image) dos HDs Sys e Data para o NAS

      🙂

    • Fabio e Cora, a propósito e outro assunto rsrs… Uso o Norton360 no notebook mas quero mudar. Alguma sugestão? Algum free que seja efetivo? Vcs usam algum, pq não estou falando de mac, of course. Abçs

  4. Uso e adoro o MS Word XP/2002 (para mim, a melhor versão deste aplicativo; testei as posteriores e não me seduziram)

    Escrevo um parágrafo > CTRL+B
    páro para pensar> CTRL+B
    toca o telefone> CTRL+B

    …CTRL+B, CTRL+B, CTRL+B, CTRL+B, CTRL+B, CTRL+B, CTRL+B…
    🙂

    • Para a maioria dos usuários não faz diferença alguma usar o Word atual ou uma versão de 10 anos atrás. Mas sem as constantes atualizações o que seria do faturamento da Microsoft?

  5. Cora, nao sei porque vc ainda insiste com Ruindows. Os Macs raramente dao esse tipo de pau – nao me lembro de ter acontecido algo semelhante comigo durante os mais de dez anos que trabalho com eles. Claro, infaliveis nao sao… e a nuvem eh uma boa alternativa para ter tudo bem guardadinho.
    Quando a M$ comprou o Skype, pensei ca comigo: tamos f&/:()! Nao deu outra: o Skype ja comecou a travar e dar outros tipos de pau… Talvez pela migracao das contas de MSN, mas ta dando. E que saudade eu tenho do bom e velho ICQ, posto de escanteio, pelo menos no Brasil, quando a M$ empurrou o MSN pela goela dos bobos… Bjo!

  6. Cora, aconteceu comigo uma semana atrás – um release super complexo, e perdi DE VEZ. Também revirei o disco atrás do arquivo temporário e chorei pitangas e jabuticabas. O mundo está perdido, amiga!

  7. Olá, Cora!
    Já fui usuária do Word por muito tempo e entendo bem o que você passou. Como o computador pode ter engolido o texto sem deixar vestígios?
    Desagradável nem começa a exprimir o sentimento de desespero.
    Atualmente uso o Evernote. Conhece?
    Ele grava diretamente “nas nuvens” e posso acessar e editar os arquivos de qualquer lugar, incluindo celular e tablet.
    Tem vários recursos legais para organizar os arquivos em notebooks, tags e um add on para o Chrome que copia e cola páginas ou partes dela e salva como novos arquivos.
    Não é perfeito, claro! Nada é. Mas Word hoje, só uso quando preciso contar palavras ou uma formatação especial.

  8. Sem problemas. O Ministério da Defesa acaba de liberar verba para que ufólogos de banânia entrem em contato com ovnis. Agora, com dinheiro, vai que eles encontrem tua crônica por aí abduzindo leitores desatentos.

  9. Dias atrás tive um problema parecido. trabalhei a semana inteira num documento importante e salvei numa pasta que simplesmente desapareceu no ar. Foi um grande desespero, Era um trabalho com deadline apertado. Chorei, ouvi várias opções dos amigos no facebook e nada adiantou. A solução pra mim foi bem prosaica: tomei um banho morno, ouvi musica e dormi cedo. No dia seguinte refiz o documento em poucas horas: de tanto trabalhar o texto ele estava praticamente inteiro na minha memoria… Acho que ficou até melhor… rs… Mas me interesso por essas novas formas de gravação nas nuvens. soa até poetico! beijo.

  10. Cora, uma expert em tecnologia não pode dar essa bobeira! Você ainda usa Microsoft?
    Experimente usar Mac ou o Google Drive. Há muito tempo não tenho problemas pois deixei totalmente de usar o barroco Office da MS.

  11. “Considero a paulada que o Word me deu muito didática. Às vezes, precisamos reaprender certas coisas, e reaprendi a ficar esperta.” // Perfeito, Cora! Penso sempre o mesmo, em qualquer “paulada”! rs Ontem, coincidentemente, eu, que sempre organizo tudo na minha vida, visto que vivo sozinho, ignorei (ou nem vi) dois avisos na conta de água sobre uma que não fora paga (“devem ter se enganado, pago até adiantado” e desconsiderei o provável extravio na caixa do correio) e agora me vejo, há 12 hs, sem o líquido precioso! rs Acordei cedo para pegar o primeiro horário da agência que abre aos sábados, pagar, e esperar a religação em 24 horas (“a partir de 2º feira!” rs) Ficarei mais “esperto” e ligado! rs Abraço! Fernando 3

    • Só lembrando aqui que computadores de Banco no Brasil são Windows- e também erram- e que já me, vi sem luz e, consequentemente, sem freezer nem TV, durante o Carnaval, pois a minha conta foi retirada, por erro, do débito automático.
      A Light não quis saber: cortou mesmo!
      Hoje em dia, confiro sempre.

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