O ano de 2001 começou com uma novidade chamada blog. O formato existia desde 1999, mas só em fins de 2000 começou a se difundir, a partir do lançamento do Blogger.com, um site que permitia a qualquer um criar o que, até então, exigia bons conhecimentos de HTML, servidor próprio e determinação. O blog, inicialmente conhecido como weblog, era uma espécie de diário online, onde você comentava assuntos do seu interesse, escrevia contos e poesias e, sobretudo, contava para as outras pessoas como a vida estava te tratando. Não tinha muita utilidade, e fazia sucesso sobretudo com adolescentes. Aqui e ali, porém, a turma mais conectada começou a fazer o que, hoje, se chama “produzir conteúdo”.
Criei um blog em abril de 2001, para ver que ferramenta era aquela, mas, de início, não tinha idéia do que fazer com ela. Em agosto, finalmente, cheguei à conclusão de que usaria aquele espaço para publicar o excedente de notícias que não conseguia por no jornal; assim, no dia 26, publiquei o meu primeiro post, falando dos bastidores de um Roda-Viva com Steve Ballmer, de que havia participado em São Paulo.
Steve Ballmer já era, então, o CEO da Microsoft, e me surpreendeu agradavelmente no contraste com Bill Gates, que eu entrevistara algumas vezes ao longo do tempo. Ballmer era simpático, e vivia o auge da sua fama pop: há semanas circulava pela internet uma esquisitíssima espécie de dança tribal que ele fazia para motivar a galera da Microsoft, e que havia sido filmada num encontro com desenvolvedores. O vídeo era ridículo e, consequentemente, fazia muito sucesso.
Naquele primeiro post, que ontem fez dez anos, me dei ao trabalho de calcular, com base no seu salário conhecido, quanto valiam as duas horas que ele havia dedicado à TV Cultura: US$ 159.817,35. Lembro ainda hoje que a cifra me deixou deprimida durante um bom tempo.
Depois disso, entre fotos, links, textinhos pequenos, pensatas variadas e reprodução das crônicas e colunas que escrevo para o jornal, foram 13.917 posts – que decidi, enfim, transferir de endereço. Desde que nasceu, o blog era escrito e publicado no Blogger, que, há dez anos, era a melhor ferramenta para isso. Hoje, defasado e antigo, ele sobrevive das glórias passadas e do fato de pertencer ao Google.
No último dia 20, publiquei, enfim, o primeiro post na casa nova, cujo endereço é – anotem – cronai.wordpress.com. Nele falei do processo de transferência e comentei algumas coisas que observei no WordPress. De todas, a mais irritante é a tradução aleijada, pela metade, que traz comandos em português, mas abre janelas de diálogo em inglês. Detesto isso!
Ora, por que me dei ao trabalho da mudança se, ainda outro dia, escrevi sobre o fim dos blogs? Por um só motivo: os blogs não vão acabar amanhã, e eu já não agüentava a incompetência do Blogger em relação às fontes vindas do Word. Fiquei triste em deixar para trás o lindo template que o Mario Amaya desenhou para mim há quase dez anos – as primeiras edições do blog usavam um template básico do Blogger; fiquei feliz com o aspecto limpo e despojado do novo blog e, sobretudo, com o recurso de rodízio automático da foto do cabeçalho.
O mais importante é que o novo blog foi aprovado pela maioria dos leitores. Fiz uma enquete em que 76,44% acharam a nova versão melhor do que a antiga, 13,09% acharam pior, e 10,47% têm a impressão de que dá na mesma. No total, votaram 191 pessoas.
Ainda estou aprendendo uns truques aqui e outros ali, mas, de modo geral, estou contente com o WordPress. Recomendo a mudança a usuários do Blogger, que não perderão nem textos nem comentários feitos nas caixas do próprio Blogger, e ganharão em rapidez e flexibilidade.
Aos que ainda não têm blog mas têm vontade de ter um, recomendo na verdade o Facebook, onde cada nota é um post com direito a comentários e onde, maravilha das maravilhas, a audiência já vem prontinha.
(O Globo, Economia, 27.8.2011)