No mês passado, uma orquídea que sobrevive valentemente aos gatos lá de casa deu uma linda flor lilás. Fiquei encantada com a tenacidade da plantinha, e tentei fotografá-la com o iPhone.
Nota zero: a flor saiu azul e, na tentativa de encontrar a tonalidade certa, a câmera ainda me transformou uma parede mostarda em marfim. Tive mais sucesso com o Samsung Galaxy II, que leu com bastante correção as cores da flor e da parede; mas, para minha surpresa, a foto seguinte, feita com a excelente Canon S95, também saiu errada, tão distorcida quanto a do iPhone. Lembrei-me então de uma conversa que tive, tempos atrás, com o notável fotógrafo italiano Roberto Cavana, sobre a dificuldade de se capturar os tons do roxo, ou púrpura — aquele leque de tons entre o vermelho e o azul. A sua Contax reproduzia com bastante fidelidade os tons de uma violeta, ao passo que a minha Panasonic da época “lia” a flor num estranho tom de azul.
O problema é antigo e vem ainda da época do filme. Quem é que não leu sobre a impossibilidade das câmeras de captarem os olhos violeta de Elizabeth Taylor? A Wikipedia traz uma curiosidade sobre essa cor que está na raiz da questão: “O violeta é uma cor constituída pelos menores comprimentos de onda da luz visível, entre 455 e 390 nanômetros. Acima da frequência do violeta (comprimentos de onda menores do que 390 nm até 15 nm) a luz passa a não ser mais visível, denominando-se ultravioleta.”
Os filmes, afinados para reproduzir bem um certo número de cores mais comum (tons de pele, céu, grama, areia, etc.) tinham problemas com os extremos do espectro de cores. Daí a impossibilidade de capturar com fidelidade a lendária cor dos olhos de Ms. Taylor.
O mais curioso é que o problema continua com as câmeras digitais. Digitem “photographing purple” no Google e a palavra “problem” junta-se às anteriores automaticamente. Na sequencia, vem 141 milhões de entradas a esse respeito.
O problema da cor púrpura não poupa marcas, modelos ou lentes especiais. É democrático, e afeta, em maior ou menor grau, praticamente todas as câmeras existentes.
Num dos vários fóruns de discussão da questão, encontrei esta explicação, dada por um camarada chamado Dave Hartman:
“Os tons de roxo são sempre um problema, já que o roxo não é uma cor produzida por luz, mas sim por pigmentos e pela mente humana. Esses tons foram, durante décadas, um problema tradicional dos filmes a cores.”
Foi neste mesmo fórum, em indicação do mesmo Dave, que encontrei o link para “Do you believe in purple?”, um artigo que explica o mistério da cor púrpura para anglo-parlantes. Quem se interessar, pode lê-lo em bit.ly/nWp193.
Dito tudo isso, como fazer para fotografar direito violetas, orquídeas e o que mais há de roxo no mundo? Considerando que o WB não resolve a questão, os especialistas são unânimes: fazer a foto tentando acertar as demais cores, e resolver o roxo no Photoshop…
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Há uma simpática exposição dos cartazes de cinema de Fernando Pimenta no Oi Futuro, em Ipanema, ali na Praça General Osório. Fernando Pimenta fez os cartazes de mais de 300 filmes nacionais, e mesmo quem nunca ouviu falar nele conhece um bocado da sua obra.
Detalhe: não há um só cartaz de papel nas paredes. As obras estão expostas em telões, e alguns podem ser pilotados pelo público, permitindo “reinventar” os cartazes – e, depois, compartilhar o resultado com amigos, via email ou redes sociais.
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E, como ninguém é de ferro, a vossa cronista entra em férias. Até novembro!
(O Globo, Economia, 15.10.2011)