O cheiro das odaliscas

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Mundo globalizado é uma perdição. Internet de um lado, cartão de crédito do outro: combinação muito tentadora! E como eu resisto a tudo, menos às tentações, meu cartão é conhecido de comerciantes em todas as partes do globo. Agora mesmo acabei de receber uns óleos essenciais fabricados em regiões distantes do mundo e revendidos por uma simpática empresa da Califórnia, a Attar Bazaar

Os attars são, quase sempre, perfumes de uma nota só, óleos de aromas puros que ou usam-se assim mesmo, ou misturam-se a gosto. Tradicionalmente, cada vendedor faz as suas póprias combinações e com elas conquista a clientela. A Attar Baazar vende algumas dessas misturas.

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As fragrâncias vêm em frasquinhos bem pequenos, têm uma densidade atômica absurda — nem pense em usar mais do que uma gota! — e custam muito barato. Não porque sejam inferiores aos perfumes ocidentais com os quais estamos acostumadas, mas porque não precisam de caríssimas campanhas de marketing ou de embalagens sofisticadas. São usadas há milhares de anos e têm freguesia garantida.

No dia a dia, um attar se usa pondo uma gotinha no pulso, esfregando um pulso contra o outro e passando-se os dois nos cabelos. Em comparação com os perfumes que usamos, os attars são fortes e devem ser aplicados com muita moderação; mas, em noites calientes, vale um cheirinho no avesso dos joelhos. Muito sexy!

A jóia da minha encomenda foi um frasquinho de jasmim em roll-on. Custou a bagatela de US$ 9,95 e, embora tenha apenas 5ml, vai me durar por alguns anos. Attars são assim.

Como tudo que vêm do Oriente, também esses perfumes chegam envoltos em lendas e em mistérios. O cheiro do jasmim, dizem, é o preferido pelos dervixes dançantes da Turquia. Ele tem o poder de dar um up na moral e tem efeitos antidepressivos.

O cheiro é tão lindo que eu acredito.

38 respostas em “O cheiro das odaliscas

  1. Os hungaros sao especialmente chegados em perfumes? Eu adorava o aroma do sabonete Viol da Kanitz – sumiu! E o Sabao da Costa? Lembro-me tambem de um que vinha em pasta, parecia bala de coco batida antes de bater, acho que tambem da Kanitz, com perfume, acho, de amendoas. Era o preferido da minha mae.
    Que coisa! Como esses icones de repente desaparecem…

  2. Corinha,quase q chorei me lembrando daquela cena crucial de Desejo e Perigo do Ang Lee…ai,meu romântico coracao.

  3. Já que você fala de óleos essenciais, Cora, permita-me uma pequena publicidade para um óleo essencial que considero realmente “essencial” para quem tem dores crônicas, reumáticas etc. Trata-se do óleo essencial de pimenta malagueta com alto teor de capsaicina. Infelizmente o seu preço é proibitivo (CHF 1.000,00 o litro), um dos melhores fabricantes está justamente aqui na Suíça. Desculpe(m)-me se estou me referindo a algo “evidente” para todos aí no Brasil. A capsaicina é fabulosa como ingrediente de analgésicos e anti-inflamatórios em forma de cremes e pomadas (sem nenhum efeito colateral, sou testemunha disso pois uso há anos). Aqui na Suíça é manipulada por farmacêuticos e muito usada por reumáticos e diabéticos (não está à venda para consumidores sob forma de óleo essencial). Não há nada melhor (quase não tem cheiro). Para quem se interessa, pode-se fazer uma versão mais fraca (mas também bastante efetiva) sob forma de extrato (em álcool) em casa com custos baixíssimos já que a malagueta é originária da América do Sul. Se alguém quiser a receita, dou com prazer. Em todas as minhas viagens ao Brasil procurei sempre passar adiante a idéia.

    Quanto aos óleos essenciais de flores e plantas para aromaterapia ou perfumes (os attars orientais tão usados na Turquia, Egito, Marrocos etc.), é importante ter-se em conta a confiabilidade do fornecedor. Se o preço for muito baixo, pode-se tratar de artigo sintético, nada recomendável. Mas são realmente uma tentação.

    • Legal, Silvia!
      Nós dentistas usamos a capsaicina pra síndrome da língua ardente e algumas nevralgias de trigêmeo.
      Aqui no Brasil da pra fazer diluindo o Tabasco (tem que ser o verdadeiro) em água.

      • Acho órimo que a capsaicina tenha também aplicação no âmbito da odontologia, Monca. A idéia do tabasco é muito boa!
        Quando penso na divulgação da malagueta como remédio, preocupo-me não só com esta inexistência de efeitos, mas com o aspecto econômico. Usar Volt*** ou outro do gênero implica em efeitos colaterais fortes e negativos e também em custos altos. A malagueta encontra-se facilmente à venda e pode, até, ser plantada em casa (é muito decorativa). A manipulação deve ser muito cuidadosa (ardência e até lesão dos olhos etc.; proteger os olhos e as mãos, fechar bem o liquidificador, não levar as mãos aos olhos, lavá-las bem após o trabalho!). Enfim, basta apenas colocar a quantidade que se queira no liquidificador (após lavar bem as “pimentinhas” que devem ser bem fortes e sem os talos), cobrir com o suficiente de álcool 95° para fim alimentar (eu uso álcool empregado na fabricação de licores), bater bem e colocar num frasco bem fechado em ambiente escuro e arejado. Deixar descansar por, pelo menos, duas semanas. Mas pode ficar assim por meses (sacudindo-se vez por outra o frasco). Depois passar por peneira fina ou coador (desses de café) e está pronto o extrato. Pode ser misturado a um bom creme (não muito gorduroso, no Brasil encontrei um muito bom e econômico em Teresópolis, na loja Irene: o Creme de Massagem Corporal d’agua natural da Rochadel, RS). A proporção: 1 colher de sopa para 100 ml de creme (adaptar a gosto caso fique muito forte ou o contrário). Pessoas de pele clara podem sentir mais a ardência ao ser aplicado o creme. Em geral esta passa após algumas aplicações. É necessário prestar atenção a uma possível alergia (raríssimos casos). Possibilidade de incrementar o creme juntando cânfora, óleo essencial de arnica, própolis, óleo essencial da árvore do chá (australiana) etc…

        Desculpe-me, Cora, por desviar um bocado da poesia dos seus attars…. Não resisti…
        Espero que alguém tire proveito e… passe adiante.

        • Excelente dica, Silvia, adorei vc ter publicado a receita completa. Valeu demais!
          A Capsaicina é mesmo poderosa e suas propriedades medicinais têm sido bastante estudadas!

        • Silvia,muito obrigada por compartilhar sua sabedoria conosco.Estou meio q incrédula…meu pai e´mineiro e sempre aparecia com uma “garrafada” milagrosa de pimenta.Sera´q era a malagueta??Tenho uma amiga q sofre com atrose e artrite,sera´q ajuda aqui tb? Um abraco.

          • Moni
            Obrigada pela “sabedoria” que na verdade é resultado de muita curiosidade e interesse. Ou melhor, a intenção de usar produtos mais naturais…
            Imagino que seu pai usasse algo semelhante (que vem da sabedoria – essa sim – da tradição popular). Você não sabe os ingredientes?
            Quanto à sua amiga, uso justamente para estes casos, osteoartrite e artrose (coluna, articulações dos joelhos). Com ótimos resultados. Mas é um tratamento “constante” (preparando e usando com todo o cuidado possível, protegendo os olhos e não inalando os “gases” que são emitidos durante a preparação com o liquidificador e o envasamento). Dê uma “googlada” para descobrir mais sobre a capsaicina (analgésico, anti-inflamatório, fonte de vitamina A, E e altamente anti-oxidante). Tem muito valor, como Tom confirmou. A idéia de fazer em casa no liquidificador deu-me um farmacêutico que conheci em São Pedro d’Aldeia. Provei e deu certo. Aqui uso também uma receita do meu médico a ser manipulada em farmácia.
            A propósito e aproveitando a carona, o creme base que mencionei é ótimo misturado com um pouco de azeite extra virgem para usar como creme de mãos ou pés.
            Boa sorte e… passem adiante se gostarem!
            PS – Acabo de redescobrir o altíssimo valor da nossa castanha do Pará (fabulosa fonte natural de selênio). Vale a pena (3 a 4 por dia)!
            Desculpe, mais uma vez, Cora… 🙂

    • Com certeza vou aproveitar sua receita, Sílvia. Muito obrigada pelas dicas. Eu adoro pimenta em geral, mas nunca tinha usado dessa forma. Esse creme deve ser ótimo para alguém como eu, que vive tropeçando no jardim, correndo atrás de galinhas, de jacús, olhando pras plantas sem olhar onde pisa 😉

  4. Ótima dica, Cora! O difícil é escolher entre tantas fragrâncias, mas, tenho sempre este problema. Nestas ocasiões eu sempre me lembro de uma crônica que você escreveu há uns anos atrás quando de uma viagem a Miami (precisou comprar um shampoo, entrou na “Wallgreens” e aí você descrevia a variedade dos produtos que encontrou, etc.). Vou tentar escolher a fragrância nas próximas 24 horas… Obrigada por compartilhar este “segredinho”!

  5. Cora, o doodle de hoje é lindo! Festejando o Valentine’s Day fizeram um doodle interativo, com rodas-gigantes e animais namorando, porque o Ferris, inventor da roda gigante nasceu num Valentine’s Day. Não aparece pra nós – uma pena – mas pode ser vosto no youtube. Dura 2 minutos, um trabalho lindo! ❤ Happy Valentines!

  6. Na década de 1970, ia sempre à Rua Augusta, aqui em Sampa, e comprava todos os “condimentos” para fazer perfume em casa. Havia alguns segredos, os quais aprendi. Fazia a mistura de acordo com a indicação e deixava no fundo do guarda-roupas para “maturar” (no escurinho). Ficava muito bom, igual ao original. Pena que me esqueci do nome do dito cujo, mas era muito famoso. Também, depois de tantos anos, penso que a perfumaria não existe mais.

      • Essas lojas devem existir em vários estados do Brasil. Mas o tempo, e o trânsito infernal de Sampa, me fizeram esquecer até o nome do perfume – masculino e bem conhecido (pelo menos, ele era, na época). E com já disse aqui, uso somente perfume masculino. Quando lembrar, direi.

  7. Depois de saber que o cheiro é “lindo”, amar Ingres, jasmins e exotismo,vou às compras!!!
    Como gostei desta dica Cora, ainda mais vinda de vc e de sua maneira mágica de descrever as coisas…

  8. Adoro cheiro de jasmins; numa noite quente de verão um perfume desses entrando pela janela, tomando a varanda, é mesmo lindo, é calmo, conforta, uma sensação embriagadora, traz lembranças, evoca sonhos, inspira.
    Aqui no jardim do prédio há jasmineiros, tudo parece tão bonito quando o calor puxa seu perfume…
    Seu jeito de escrever é gostoso de ler, faz pensar.

  9. Deve ser uma delícia esse attar…cheiro de jasmim…lembro-me de quando adolescente, minha mãe comprou um perfume de Dama da Noite , em aerosol, importado, que nunca mais encontrei para vender. Na minha antiga casa, não aqui no Rio, havia um canteiro(?) dessas flores. Certas noites perfumadas pelas “Damas”, eu ficava na varanda do andar de cima, sem saber se o perfume vinha da minha mãe ou das tais lindas flores…

    • O cheiro dessa flor é um dos meus preferidos. Me deixa inebriado!
      Como será que se chama em inglês? Alguém conhece onde vende?

  10. Endosso os agradecimentos Cora !
    E gostaria de saber se poderia diluí-los em álcool de cereais (aqueles que já vêm com fixador) por exemplo,colocar em vidros e utiliza-los em forma de spray ?

    • Minha mãe fazia nossos perfumes.
      E, do que lembro, a resposta é sim. Pode diluir. Mas, acho que também leva um elemento que é o fixador. E que faz toda a diferença no perfume.
      Também não pode usar direto: tem que guardar um tempo a mistura. E fechar bem o vidro, com gotas de vela derretida.
      Tinha uma loja maravilhosa aqui no Rio, na Rua Senhor dos Passos, que vendia tudo: vidros inclusive. Chamava-se, justamente, “Loja das Essências”.
      E… segundo o Google, ainda existe, no numero 54.

        • De nada. Lembrei ainda que o perfume tem que ficar guardado em local bem protegido da luz, como o fundo de um armário – ou adega rs- enquanto “fixa”.
          Eu também pretendo encomendar estas essências, na loja indicada pela @cronai

  11. Obrigada Cora, vc é fantástica por dividir este “segredinhos” com a gente, quando muitas pessoas esconderiam. Eu também adoro dividir o que encontro por ai e tb gosto de passar “dicas “caseiras, que melhoram a nossa vida no dia a dia da dona de casa. Obrigada.

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