O caso do frete ensandecido

(Essa vocês aqui do blog praticamente já leram…)

Depois de quase vinte anos de (boas) compras, minha relação com a Amazon.com está estremecida. Para a compra de dois livros de menos de R$ 22, me apresentaram um frete de R$ 100. Cem reais! Corri para a Amazon.co.uk e lá me informaram que os livros seriam postados dentro de “um ou dois meses”. Sem falar que, há duas semanas, a co.uk me negou a venda de livros em formato digital porque não me encontro na Inglaterra.

Para dizer a verdade, eu já vinha aborrecida com a livraria que tantas alegrias me trouxe. Há algum tempo, ela terceirizou o transporte para o Brasil. Uma certa iParcel assumiu os trabalhos, e passou a cobrar, adiantado, o imposto de importação, que incide sobre qualquer coisa que não seja livro. É claro que o imposto, escorchante e injusto — é cobrado até sobre o valor do frete! — não é culpa da Amazon;  mas antigamente, quando ela própria fazia as entregas, tínhamos a possibilidade de ser sorteados na loteria da aduana e receber nossos pacotes sem precisar pagar a parte do Leão. Já recebi muitos telefonemas de amigos felicíssimos me contando que haviam recebido seus DVDs sem pagar o imposto, e eu mesma tive essa felicidade algumas vezes.  Além disso, imposto ou não imposto, o frete da iParcel é sensivelmente mais caro do que o que a Amazon cobrava.

Quando escrevi sobre isso no Facebook, na madrugada de quinta-feira, fui mais incisiva do que aqui: disse que a minha relação com a Amazon.com estava terminada. E atribui as mudanças de frete à chegada da Amazon.com.br, já que as duas coisas aconteceram quase simultaneamente.

O post foi bastante lido, comentado e compartilhado. Na quinta à noite, Alex Szapiro, presidente da Amazon no Brasil, me telefonou. Foi uma conversa interessante, que serviu para esclarecer algumas dúvidas e para reaquecer a minha relação com a livraria. Vocês vão dizer que essa ligação não tem nada de mais, que presidentes de companhias ligam quando as reclamações são feitas por jornalistas com boa visibilidade, mas não é bem assim. Já cansei de fazer reclamações que não foram respondidas por ninguém. O fato de Szapiro ligar significa que a Amazon está atenta à satisfação dos consumidores, e eu fiquei contente com isso.

Bom, ele manifestou muita surpresa com o frete absurdo. Quando me ligou, o caso já estava sendo investigado pela Amazon, e ninguém sabia dizer o que estava acontecendo. Depois de falar com ele, refiz a compra, dessa vez com quatro livros (incluindo os dois do pedido inicial) e aí, num pedido de R$ 65,62, fui contemplada com um frete de R$ 189.  Mais tarde, já na madrugada de sexta, fiz o pedido de um único livro, diferente daqueles pedidos antes, e o frete, ainda que caro, era normal.  Vá entender. Assim que eu souber o que aconteceu — e assim que o preço do frete voltar a níveis razoáveis — contarei para vocês.

O presidente me disse ainda que as mudanças no sistema de envio não tiveram nada a ver com a vinda da Amazon para o Brasil, até porque, por enquanto, a Amazon.com.br só vende e-books. Aproveitei para perguntar o que acontece com a conta de um usuário que aceite transferi-la para o Brasil, como propõe a página brasileira quando a abrimos. Ele poderá continuar a usar a Amazon.com?

A resposta é sim. Tudo o que ele comprava na Amazon.com poderá continuar comprando. A única coisa que perde são assinaturas de revistas e jornais para tablets. Nesse caso, a Amazon devolve a quantia correspondente aos exemplares não entregues.

Por outro lado, a compra de e-books pela loja brasileira é vantajosa. Nela podem ser encontrados todos os títulos disponíveis na loja americana, a preços em reais. Isso significa que o custo fica livre de IOF e das taxas de conversão dos cartões de crédito. Em suma: se você é assinante de periódicos, não vale a pena transferir a sua conta; se o seu negócio é comprar e-books, vale. Sempre lembrando que a transferência não é definitiva, e pode ser mudada a qualquer hora.

Quanto a mim, vou esperar para ver o que acontece. Se o custo do frete voltar ao normal, a Amazon.com estará perdoada e reatarei nossa velha relação.

(O Globo, Economia, 19.1.2013)

6 respostas em “O caso do frete ensandecido

  1. Prezada Cora Ronai ou simplesmente Cora

    Não sou seu leitor, como aliás, não sou de ninguém, o que é realmente lastimável e grande perda para mim, pois intuo que muito me agradaria ler seus escritos. Desculpe-me, mas nem sei quem és.
    Grande ignorante dirás. E é uma afirmação correta.
    Foi por acaso que li seus comentários do 31 de janeiro deste ano quando fazia uma pesquisa sobre as músicas do filme Os Miseráveis, ao qual tive enorme prazer de assistir esta semana e rever dois dias depois com a mesma emoção, admiração e os olhos marejados de lágrimas com um espetáculo de tanta e rara beleza, sensibilidade, que captura a essência da vida de forma tocante, grandiosa, exuberante, onde os sentimentos mais nobres são exaltados de forma intensa, sublime e elevada. É sem dúvida, para mim, uma dos melhores, senão o melhor de todos.
    Enfim, concordo com tudo que escreveu. E quero te dizer, OBRIGADO!!!. Senti como se tivesse escrito para mim, pois você expressou exatamente o que eu gostaria de ter encontrado e lido, que me motivou a escrever-lhe.
    Bom trabalho sempre.

  2. Cora Gostei muito dessa iniciativa por este movimento de ter coragem e falar , eu sempre pagava 6,89 por frete em cds comprava muitos cds , hoje quando fui fazer uma nova compra me deparei com um frete na faixa dos 14,00, o que é isso???????,me senti assaltado e traído pela empresa , sou musico , realmente eu amo musica compro sempre muitos cds de uma só vez , mas só que dessa vez me decepcionei , queria saber se algo sobre o frete dos cds lhe foi repassado ou se foi estrategia do governo da qui depois que o dolar teve essa queda para frear um pouco nosso em pulso de compra .

  3. Cora, obrigado por compartilhar a experiência. Ano passado fiz minhas primeiras compras pelo amazon, daí fiquei um tempo sem fazer, e ontem voltei e fiquei em choque com os valores descaradamente duplicados. Alguma previsão pra esse terror acabar? To me sentindo no Iêmen. E quanto a Abe Books: de qualquer forma, os livros não irão ficar retidos muito tempo na Alfândega brasileira, só de birra do governo?
    inté!

Diga lá!