A vida online

 

Já disse isso algumas vezes, como sabem os meus proverbiais 17 leitores, e repito, mesmo correndo o risco de me tornar repetitiva: amo a internet. Muito. De paixão. Fico indignada quando a xingam e quando lhe atribuem males dos quais não é culpada. Se o lado ruim dos seres humanos se manifesta sem máscara online, o reverso é ainda mais verdadeiro. A rede nos permite ajudar pessoas distantes e acompanhar incontáveis boas ações pelo mundo afora.

No último dia 20 encerrou-se a campanha para levantar fundos para a inspetora de ônibus escolar Karen Klein, de Nova York, que foi humilhada por um bando de adolescentes cruéis. O bullying, postado por um dos bullies sem noção, revoltou a quem o assistiu, e levou Max Sidorov, do Canadá, a abrir uma página propondo a criação do fundo para que ela pudesse tirar férias daqueles garotos horríveis. Pois a campanha foi muito além do que qualquer um pudesse imaginar, e fechou em US$ 703.873 – o suficiente para que Karen, que aos 68 anos ganha pouco mais de US$ 15 mil anuais, possa, finalmente, se aposentar.

Se não fosse pela internet, o bullying sofrido pela inspetora teria ficado por isso mesmo; os bullies não teriam tido nenhum castigo; e as 32.271 pessoas que contribuíram para o fundo não teriam a satisfação de poder ajudar a uma velha senhora injustiçada. Mais importante ainda foi, certamente, a repercussão do episódio, que faz com que outros jovens cretinos pensem duas vezes antes de tripudiar dos outros.

Já no dia 23 registrou-se o primeiro ano da morte de Rachel Beckwith, uma menina de Seattle que, pouco antes do seu nono aniversário, criou uma página pedindo a amigos e parentes que não lhe comprassem presentes, mas, em vez disso, contribuíssem com a ONG charity:water, que leva água potável a comunidades de países em desenvolvimento (história completa em bit.ly/PF7ynd).

O objetivo de Rachel era conseguir US$ 300, para ajudar 15 pessoas. Ela conseguiu US$ 220. Cerca de um mês depois do aniversário, Rachel foi vítima de um acidente de trânsito. Nas notícias sobre sua morte, a página para a charity:water foi mencionada. A história se espalhou pela internet. Resultado: 31.997 doações, totalizando US$ 1.265.823, que beneficiaram, até agora, mais de 63 mil pessoas em 149 comunidades no norte da Etiópia.

A mãe de Rachel, Samantha, continua a campanha, agora em nome da outra filha, Sienna, que faz três anos no dia 22 de agosto. Seu objetivo é levantar US$ 90 mil. Acabo de olhar a página e, até agora, ela já conseguiu US$ 18.399.

Perguntei ainda agora, no Twitter, como vivíamos sem a internet.

‏@marco_azambuja: Aquilo era vida?

@rizzomiranda: Ué!?? A gente vivia? :))

‏@Mendelski: Lendo mais, conversando mais com as pessoas próximas?

‏@pepecapacia: Jogávamos cartas, brinquedos da Estrela, visitávamos mais os amigos… essas coisas, que deixam saudades!

‏‏@arthurstorino: Acho que não vivíamos…

@Panelaterapia: #Enciclopediafeelings

‏@donalilian: Para receitas: vivíamos das costas da embalagem de creme de leite. 😛

‏@CindyValerious: Indo à biblioteca, usando o correio, lendo livros, usando o telefone, visitando os amigos. Hoje ninguém mais sabe fazer isso.

‏@adrianahora: Nós VIVIAMOS! rs

@kibeloco: Melhor?

@carolsimoes: Quando terminei a faculdade, em 2005, não tinha Youtube! Perdi registros de todas as entrevistas que fiz. A vida c/ web é mais legal.

‏@joseanibal_7: Certamente vivíamos um pouco pior… Hoje temos o mundo ao nosso alcance, on line e on time… Sensacional!

‏@MiriamGMendes: Diria que vivíamos menos estressados. Se por conta da ausência da avalanche de informações, não sei. Eram tempos mais calmos.

‏@codhec: Você ficava duas horas na fila do banco…

‏@zelblog: Com mais tempo livre.

‏@samegui: Mas acho que gastávamos este tempo livre ligando ou escrevendo pra amigos e procurando notícias.

Simocca ‏@Simocca37

@Simocca37: Não podemos e não devemos comparar as épocas. Ambas são especiais para quem continua vivendo…

As ilustrações vêm do Instagram: são desenhos de @ashley_623, de Beijing, China, para o Draw Something.

(O Globo, Economia, 28.7.2012)

34 respostas em “A vida online

  1. também amo a internet e sobretudo amo a mulher internet, a pioneira, nossa querida jornalista, Cora, muitos parabéns e muitas felicidades, $aúde, paz, amor e gatos!

  2. Quando eu “perdia” um filme, uma novela, uma revista , jornal ou um programa , uma entrevista, a ansiedade era grande..com a internet sei que a qqr momento posso acessar e ver (quase) tudo por aqui…bom demais…

  3. A Internet trouxe você e inúmeros amigos preciosos para minha vida.NUNCA mais eu quero viver sem ela.CORINHA,meu amor,minha flor querida,feliz aniversário!!!!Você mora no meu coracao!Saúde,Paz,Alegria e Deus pra vc!!!!Ich liebe dich!

    • No outro sistema FaloueDisse o blogtequim era mais pessoal e eu tenho saudades dos nossos longos bate-papos.Aquilo tb foi um presente e qdo li o texto da Matilda pela 1a x,me lembrei das visitas q fazíamos uns aos outros e a alegria que dava em descobrir um pouco mais além do q os coments revelavam por aqui.Nossos amigos queridos ,aquela figuras loucas q volta e meia apareciam,pessoas que nao lembro mais o nome ,mas q têm lugar eterno no meu coracao.Procurei o post sobre a Graciosa ,lembram? A vaquinha q o dono nos deu pra batizar.Me lembro dos seus textos e esqueci seu nome.Quase fico louca qdo penso nisso.Ás xs tenho pesadelo com algum amigo amputado dessa forma.Eu chamo de amigo pq considero amigo mesmo.Amor virtual e´sentido do mesmo jeito.Foi muito engracado qdo ouvi a voz da VanOr pela 1a vez,e qdo falei com o Tom? Eles tinham exatamente a ternura imaginada por mim e que
      suas palavras revelavam.Tudo na vida tem um tempo limitado e eu estou
      aprendendo a curtir o presente intensamente.E´isso que aprendo com a net,curtir o momento presente da minha vida,o que hoje e´intensamente vivido,amanhan e´desvalorizado brutalmente.Pensei uq era possível guardar a mágica ,mas e´impossível.E essa sabedoria me ajudou muito.
      Sinto saudade :
      do Zé Antonio
      da Angelina
      do dono da vaca Graciosa
      da outra Jussara
      da autora do SubRosa
      da Fal
      de um monte de outros…
      ficam aqui ,como fantasmas na minha mente.
      mas,eu gosto.

  4. Ô Cora, hoje não é seu aniversário? Bem, sendo ou não, muitas felicidades, muita saúde e prosperidade. Um forte abraço e um beijo.

  5. eu entrei na fila do centroin para ter direito de acessar a internet. há muito tempo não vou ao banco e raramente compro coisas “grandes” em lojas físicas. ou seja, uso bastante a internet e acho que ela só tem vantagens, não me restringe ou restringiu de nada “bom” que fazia antes dela. se fosse para responder no twitter (estou meio que igual ao meu xará), eu diria que víamos mais televisão.

    []’s

  6. Pingback: Como seria nossa vida sem a internet? Sobre as respostas na coluna de @cronai ;-) | A vida como a vida quer

  7. @luiscnelson: Não lembro mais como era…
    Respondi aqui porque, tão poucas vezes vou ao twitter, que fiquei confuso sobre qual dos passwords devo usar! Estou sempre prometendo a mim mesmo começar alguma atividade tuiteira, mas qual o quê…Eu sigo 17, entre as quais está você, Cora. E eu decerto estou entre os 17 leitores, desde os primórdios do célebre caderno.
    Antecipados votos de feliz aniversário!

    • Nelsinho,tô indo pro Rio em dezembro,onde vc estara´nessa época?Em agosto estarei em Portugal…sera´q a gente vai se encontrar um dia?

      • Olá Monica! Se prevalecer o meu desejo, este ano estarei por aqui. em Dezembro. Estarei em Pt quase todo o Setembro, mês das minhas férias. Provavelmente apenas por alguns poucos dias… Vou ficar atento em Dezembro!

  8. Vou comentar a crônica sem ler, de propósito, os demais comentários.

    Vivíamos bem sem internet. Era uma outra época, outro modo de interagir com as pessoas, de buscar conhecimento, se divertir. Outra realidade enfim. Acho muito difícil fazer a comparação em termos de melhor/pior.

    Até os meus 30 anos, mais ou menos, eu assistia a um evento como a abertura dos jogos olímpicos e só sabia da opinião de outras pessoas quando encontrava com elas pessoalmente, ou quando falava ao telefone. Nas últimas 3 ou 4 olimpíadas, incluindo a que está se passando agora, a opinião dos outros chegava quase automaticamente, primeiro por e-mail, depois pelo ICQ, MSN, Orkut, atualmente pelo twitter e facebook. Assístiamos e comentávamos ao mesmo tempo.

    O que acho chato nessa interatividade toda é a perda de certa privacidade. Pelo celular, smartphones e que tais todos nós somos de certo modo prisioneiros. Uma amiga minha dizia que não gostava de celular porque ele é uma coleira, e de certo modo é mesmo. Por muito tempo também pensei assim, mas, acabei cedendo, assim como ela também.

    Há coisas ótimas na internet: filmes, músicas, cultura, livros, diversão, informação em tempo real, ajuda, solidariedade, e também muita coisa ruim, bullying, agressões, pirataria, etc. Tudo isso é culpa do BIOS como diz uma velha piada, e não da tecnologia. A internet é e será o que fizermos dela.

  9. Eu sou uma das suas 17 fiéis leitoras e uma apaixonada pela internet. Sendo de natureza curiosa, ela me fornece em segundos a informação que estou buscando: pode ser sobre alguma doença na família, o modo de cultivo de alguma flor ou fruta, o nome do ator que acabei de ver em algum filme e tenho certeza que conheço não sei de onde e o IMDB me diz no ato, uma receita facinha de alguma coisa que me apetece cozinhar, enfim, é minha companheira de todos os dias. O skype me deixa conversar quase diariamente com minha andarilha irmã, que mora na Inglaterra mas está sempre em algum outro lugar. Ontem conversei com ela na Alemanha, semana que vem conversarei com ela em Portugal e em seguida na Grécia. E a você, Cora, e a seu blogtequin, devo a amizade sólida que conquistei de algumas pessoas muito especiais. Vários viraram meus amigos reais e posso mater contato direto, mesmo morando em Itaipava e eles no Rio. Onde mais eu teria conhecido o meu querido Tom Taborda, uma das pessoas mais especiais e interessantes que já conheci? (por sinal ele anda sumido demais, estou com saudades 😉 )

  10. Sou professora de inglês e francês e tradutora desses dois idiomas para o português e vice-versa. Profissionalmente a internet é tudo o que eu sonhei. Acho milhares de exercícios, de jogos, de ideias maravilhosas para tornar minhas aulas mais interessantes e dinâmicas. Como tradutora então nem há o que comentar. Na minha vida pessoal ela permite que eu converse diariamente com minha filha que mora nos USA, minha sogra e cunhados que moram na França. Leio jornais do mundo inteiro se quiser, assisto filmes, seriados. Entro em contato com gente interessante que de outro modo não conheceria. E sempre tenho tempo para a vida “lá fora”. Acho que o problema são as pessoas que se viciam em qualquer coisa, até em palavras cruzadas. A tecnologia, como tudo, é uma faca de dois gumes. Nós somos os senhores e eles os servos.

  11. Cora, também sou daquelas pessoas apaixonadas pela internet. Resolvo, pelo menos quase tudo, pela internet e ainda faço compras, o que me confere mais tempo para demais atividades.

    Entretanto, eu percebo que se não me policiar, de verdade!, acabo “morando” no escritório, atarrachada na cadeira, e por essa razão, limito meu tempo aqui.
    Eu queria era ler algum estudo, alguma pesquisa abalizada no que as pessoas que sofreram tal impacto (não ter/ter internet, as que fizeram essa transição) mudaram o comportamento socioemocional e a que ponto. Se elas mudaram seus saberes, se mudaram sua interação com familiares, sua disponibilidade com o outro e como a transição foi sendo assimilada.

    Não posso afirmar que minha vida era enfadonha e sem sentido antes dela, era uma vida bacaninha e com sentido, mas sem as comodidades que a internet trouxe, isso lá é verdade. E sendo muito sincera: não saberia viver hoje sem tal apetrecho.

  12. Concordo com a Lilly: as vidas pré e pós internet são boas, desde que saibamos tirar o melhor delas.
    Nada substitui o abraço de um amigo, da mesma forma que é maravilhoso poder manter contato frequente com aqueles que estão distantes.
    Os desenhos são maravilhosos.

  13. A adrenalina pode te ajudar ou te matar … vai depender da sua cabeça conseguir controlar os mil pedacinhos de que vc é formado. Minha opinião muito pessoal é que com a internet a liberação de adrenalina aumentou, e eu particularmente acho que darwiniamente a humanidade caminha para a evolução da inteligência humana, onde sobreviverão e se multiplicarão os supercapazes de controle sobre adrenalina e emoções, filtrando somente a felicidade e erradicando a depressão.

  14. não sei como pude ficar tanto tempo sem ela,mas,por outro lado estou me tornando algo que nunca fui,noctívaga,por conta da ânsia de absorver tantas informações vindas de todos os lados,fico horas e horas em frente ao meu mac querido,semi-sedentaria (exceção às minhas caminhadas diárias nas Paineiras)senão …

  15. A Internet é uma maravilha total e veio para simplificar tudo que se refere à papelada- item insuportável relacionado às obrigações de qualquer ser humano adulto.
    E democratizou o desenvolvimento, uso de instrumentos e o intercâmbio criativo. Principalmente o intercâmbio, é absolutamente fascinante, adoro.
    Idem o acesso à informação.

    Eu gosto da WEB -inclusive para observar alguns aspectos sombrios e fakes que ela revela, das pessoas e grupos. E até mesmo meus. Todos temos aspectos “ruins” e “bons”, conforme já dizia a Psicologia Profunda, no início do século passado. Vide Freud e Jung.

    Mas, eu acho que a “vida”, como você dá título à matéria, está -e acontece- off line.
    Um avadar é uma “Persona”, uma máscara de ator como se usava na Grécia Antiga. Jamais uma pessoa.

  16. Também AMO a internet, mas é engraçado como sinto falta de como eram as coisas antes, também vivíamos e muito bem!

Diga lá!