O ano dos tablets

 Lhasa, a capital do Tibete, fica longe até dos lugares de que fica perto. Não é o fim do mundo, mas faz uma imitação convincente. Pois não é que, até lá, a moda dos tablets chegou com tudo? Fazer o pedido num dos restaurantes mais recomendados da cidade é uma aventura, porque o cardápio tradicional foi substituído por um cardápio eletrônico que circula em iPad – um único e solitário iPad, que dá lentas voltas pelas mesas sob o olhar angustiado das garçonetes, aflitas com os riscos que o aparelho corre.

Eu estava muito curiosa em ver como os tibetanos haviam adaptado o menu à nova tecnologia, mas me decepcionei. As imagens estáticas com a descrição dos pratos em chinês não traziam qualquer novidade, e teriam funcionado muito melhor nas folhas de um menu convencional.

Este foi o pior uso de tecnologia que vi ao longo do ano, mas, ainda assim, o simples fato de um restaurante em local tão remoto julgar necessário o uso de um iPad para conquistar a clientela é muito eloqüente: 2011 foi, inquestionavelmente, o ano dos tablets.

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Nem todo mundo precisa de um tablet. Uma das características curiosas dos tablets, aliás, é que pouca gente de fato precisa de um. Quase tudo o que se faz com um tablet pode ser feito igualmente bem com um notebook ou com um smartphone, com a vantagem extra da mobilidade para o smartphone.

Emprestei o Galaxy Pad para um amigo que, embora cercado de tecnologia, não se convenceu ainda da necessidade de ter um tablet para chamar de seu. Achei que ele seria fisgado em uma semana de convívio com o bichinho, mas qual: depois de alguns dias, o Galaxy foi esquecido de vez.

O que deu errado? Como é que uma pessoa que trabalha com três monitores imensos lindamente sincronizados não se encanta com um pequeno monitor portátil que vai para tudo o que é lado?

Pensei muito sobre o caso. Apesar da potência das máquinas que o cercam, falta ao meu amigo um elemento crucial para entender a beleza de um tablet: o uso do celular. Como trabalha em casa, ele chegou, há tempos, à conclusão de que não precisa de telefone móvel. Nunca entendi essa mania, mas graças a ela acho que entendi melhor a natureza dos tablets, muito mais parentes dos smartphones do que dos computadores.

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Para mim, um dos aplicativos mais lindos de 2011 foi “The fantastic flying books of Mr. Morris Lessmore”, feito para iPad por William Joyce. Este é, em tese, um livro para crianças, mas não há leitor amante de livros que não se encante e comova com a história. Contada num inglês bem fácil, ela pode ser compreendida mesmo por quem não domina bem o idioma. As animações que acompanham o enredo são lindas e delicadas, e dão idéia dos caminhos que podem ser trilhados por mentes criativas em conjunto com tablets.

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Criatividade demais nem sempre funciona. Minha maior decepção com o mundo tablet foi a versão eletrônica da National Geographic, uma das minhas revistas favoritas que, em tese, tinha tudo para dar certo. O problema é que, quando um texto é bom, a sua leitura precisa ser facilitada, e não complicada pelos recursos oferecidos pela tecnologia. Fiquei muito aliviada quando a minha assinatura venceu e pude voltar à versão em papel.

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A melhor coisa do ano de 2011, para a vossa cronista, acontecerá logo mais, à meia-noite em ponto, quando, enfim, poderemos dar este ano por acabado. Que 2012 seja bom e generoso, cheio de saúde, paz e felicidade para todos nós.

 

(O Globo, Economia, 31.12.2011)

19 respostas em “O ano dos tablets

  1. Tenho aversão a manuais, ao contrário de minha irmã, que lê tim-tim por tim-tim e briga comigo por não fazer o mesmo. Por isso (como ela mora em outro município), não dá nos falamos a todo instante. Dessa forma, utilizo-me de equipamentos menos sofisticados, fator que me priva de aprimoramentos. Aprendo (e acho que bem), os programas que são imprescindíveis ao desemprenho de minha função. Paciência é o que não tenho, pois nasci sozinha, não chorei e coloquei a mão na boca, chupando o dedo, conforme minhas avós que estavam presentes naquele setembro longínquo. Mas, fazendo revisão do ano (já) passado, lamento quantos amigos perdemos. A última foi a perda do Daniel Piza, notável escritor, cronista, articulista e advogado paulistano. Mas, chega de lamentações, pois, como aqui, todos iremos para bem longe. Onde será esse “longe” ainda não tenho certeza de onde seja.
    Uma das coisas que descobri neste ano de 2012, foi que meu cunhado, ontem, domingo, me deu uma aula sobre a Índia, com história e tudo, diferentemente do que “aprendi” com minha irmã, mulher dele. Porém, continuo com a minha opinião, igual à da minha irmã.
    Mas, depois de tanto “falar”, vamos ao que interessa: que todos os frequentadores deste blog tenham um ano de muita paz, muita felicidade e muito sucesso. Claro, os primeiros desejos meus são para a dona do “boteco” (sem qualquer menosprezo, ao contrário,) com muita galhardia.
    Perdão pelo longo espaço ocupado.
    Felicidade a todos.

  2. Gostaria de ter um tablet, mas ainda não chegou minha vez…

    Também achei o ano de 2011 HORROROSO!

  3. Estou muitíssimo satisfeito com a dupla notebook / smartphone. Já manipulei e tive diversas oportunidades de ter um tablet, mas não acho que exista essa necessidade.

    Na minha humilde opinião, o tablet foi uma necessidade inventada pela Apple às custas de muita mídia (infelizmente) paga.

  4. Cora, viajei e levei um iPad. Nunca escrevi tanto email doido na vida. O autocomplete do iPad não deixa a gente escrever uma palavra errada. Errou uma letrinha e ele… pumba! Põe a palavra certa ou inventa outra.
    …mas que fiquei na maior curiosidade pra saber como sái um texto escrito pela Marcia Amaral no iPad, lá eu fiquei…

    A quem interessar possa, caso queira desligar aquela $%#&* do autocomplete do iPad, clique em Settings->General->Keyboard e tasque um “OFF” no auto-correction (auto-capitalization, auto-tudo!). Garanto que vai evitar mal entendidos, demissões, divórcios, falências e a terceira guerra mundial, pois a gente nunca consegue escrever outra coisa a não ser o que o iPad escolhe pra gente!

    • também gostaria de ver, Marcela. Deve parecer com os textos que minha irmã digita no cel dela Meu marido e eu tentamos sempre decifrar, mas acabamos só conseguindo descobrir o texto via skype 😉

    • Meninas!!!!!!! Ora ora!!!!! Voces querem ver como fica um texto meu no IPAd??? Basta olhar o meu Facebook ou Flickr!!!!! Esse corretor maluco de frases, nao so inventa palavras para typos , mas tambem para palavras que ele desconhece, e olha que essas sao muiiiiiiitas.
      Tadinho , por exemplo, ele escreve com GADUNHO!!!! Seja la o que for isso…. Eh um porre!!!!!!!
      FYI esse texto foi escrito num deskyop com teclado preto numa sala cm pouca luz….. Os erros tem o teclado como culpado!!!!!!

  5. ‘tablet’ acho q vai ser mais um anglicismo incorporado (e bem-vindo) 😉

    Afinal de contas, forçar um ‘papeleta’, ‘prancheta’, ‘tablete’, ou desenterrar a ‘lousa‘ (que seria o mais apropriado) não tem nada a ver…

    • Tenho certeza que você foi o amigo não fisgado, Tom. 😉
      Também não me interessei e deve ser porque não sou ligada em celular, só uso pra fazer chamadas necessárias e pra não atender às que recebo!

      • Nao tenho a menor duvida que era ele!! Eu tb nao gosto de celular. Achava que era util quando faltava luz e a secretaria nao funcionava. Agora que ganhei um telefone com fio de 14 reais ja nao preciso mis de celular!!!!

  6. Adoraria ter uma desculpa para ter um tablet! adoro tudo que é tecnologia, mas não a entendo, só sei que me fascina e a quero!!!! então a minha duvida é se eu me dou um Kindle….ou um IPad….beijos e um maravilhoso Ano Novo, Cora! Ter lhe conhecido foi uma das boas coisas desse ano…..Arnild

  7. Tb não fui fisgada pelos tablets, acho que estou na mesma situação do seu amigo que trabalha em casa – como eu tb trabalho acho que celular é uma tecnologia boa, mas muito cara.

    Feliz Ano Novo Cora, tudo de bom pra você e sua família.

  8. Você sempre me esclarece alguma coisa, corinha, foi bom estar com você ao longo do ano que recém passará, e há de ser melhor o próximo para você e todos aqueles a quem ama. Felizes Anos Novos ::)
    beijo,
    vera

  9. Não fui fisgado também pelos Tablet´s. Ja tive algumas oportunidades de compra-los e sempre me perguntei o porquê deveria fazê-lo. Sinto saudades mesmo dos Nokias. E que saudade!

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